terça-feira, 6 de abril de 2010

Terceiro sinal... luz

Na Grécia Arcaica, o poeta tinha o poder realizador. Porta-voz da verdade e da memória. Inspirados pelas musas, os poetas eram os mestres da verdade. E dentre as musas existiu Terpsícore, a musa da dança, a rodopiante! E longe de mim ser capaz de ouvir musas, escrever como um poeta, falar da verdade do mundo, faço apenas a parte dos rodopios.

Nada como um dia de chuva para nos fazer pensantes, e no meu caso me tornar realizadora. Crio assim um espaço meu de memórias (momento egocêntrico do mundo moderno, momento de afinidade com as águas que passam pela rua). E como meu mar vive dias de maré alta, este se torna o papel para o mover da escrita, da imagem, da narrativa. Neste mundo de ambigüidades, decido exercitar minha escuta e minha voz, meu olhar e minha sensibilidade. Gosto de me colocar junto à ficção, junto ao lugar não sério, o da imaginação. A relação entre o real e a ficção, entre o tempo e a linguagem borbulham a todo tempo na minha cabeça. Gosto de histórias, de viagens e seus narradores.

A página então é prova de que adentro no mundo narrado. Piso firme no terreno que os gregos se referiam pela noção de mímesis - que freqüentemente é vertida como imitação ou representação -, mas que antes de qualquer coisa guarda a noção de apresentação do mundo sensível e do enredo das ações humanas. Mundo das minhas ações. Mundo dos meus rodopios. Mas não vamos entrar em discussões sobre cópias e originais, apresentações e representações. Não hoje.

Vivencio uma história ímpar. Um fazer que enfrentou inúmeras fases, eras de congelamento e tempos de explosão. Uma criação que chegou a mim fragmentada, com momentos velhos vividos em cena e outros apenas imaginados em processos anteriores. Tudo junto de uma vez só, cada um vindo de um canto, resolvem se comunicar. Essa grafia traçada entre os momentos é construção de uma lógica minha. Minha teoria entre coxias que me dão pernas e rotundas que me fazem existir de joelhos. Fujo do outro, meus espasmos respondem à uma convivência perturbadora, cheia de pontadas. Fala muda. A cena com seus momentos de escuridão brinca com a minha noção de tempo. Torna-se um jogo, com elementos e corpos. É uma história que diz se transformar a cada ação, mas que cai num ciclo vicioso, sofrendo para sempre as mesmas consequências. Estou presa nesta história. Por agora.